Fui ao lançamento do livro "A Rainha e os Panos Mágicos", das maravilhosas Janaína Leslão e Deborah Delage. Entre todos os assuntos pertinentes que discutimos lá, uma frase da Deborah ficou martelando na minha cabeça por dias.
Ela disse (não com essas palavras, pois não lembro mais a frase exata, apenas do sentido) que precisamos abrir mão do posto de comando e que não podemos ecoar o comportamento ortodoxo de alguns profissionais da área de saúde que tiram o protagonismo da mulher durante a gestação, trabalho de parto e parto.
Em seguida ela disse (dessa vez estou parafraseando): "não chamem as mulheres que vocês assistem de doulandas".
Caramba! Tenho a sensação de que todos na sala sentiram o mesmo que eu. Aquele espaço populado por mulheres incríveis ficou alguns minutos em absoluto silêncio.
Eu, a inconformada nata, a problematizadora de plantão, a chata "desconstruidona" estava mais uma vez aprendendo sobre a importância de sair da bolha e ouvir opiniões diferentes das nossas (como eu amo isso!!). Parei imediatamente para refletir sobre o que Deborah havia acabado de dizer. Obviamente, perdi o tema seguinte da palestra por não conseguir me desligar do anterior.
Faz sentido, não é? Quando dizemos "a minha doulanda", tiramos daquela mulher uma parte do seu protagonismo, do seu lugar de comando e tomada de decisões. Repetimos o termo sem pensar em seu significado. Ela não nos pertence, suas decisões tampouco.
Afinal, qual a diferença entre dizer "minha doulanda" e "minha paciente"? Estou em fase de adaptação, me policiando para dizer "a mulher que estou assistindo" ou "a mulher que estou atendendo" em lugar do habitual "minha doulanda". Acredito estar devolvendo a ela seu local original. Aquilo que pertence somente a ela. Ela é o foco, não eu.
Essa foi uma questão valiosa para mim. Espero que seja uma reflexão importante e construtiva para vocês também.
Beijo grande e até a próxima,
Amanda Franco.